Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste. (Fernando Pessoa)
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
terça-feira, 8 de novembro de 2011
domingo, 9 de outubro de 2011
Passagem da noite
não porque a noite descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palmitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.
Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias,
as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras, que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou: não nos diluimos!
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver.
Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 26 de julho de 2011
quinta-feira, 21 de julho de 2011
domingo, 17 de julho de 2011
A verdade
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
sábado, 25 de junho de 2011
quarta-feira, 8 de junho de 2011
O PERMANENTE E O PROVISÓRIO
[...]
Um endereço não é pra sempre, uma profissão pode ser jogada pela janela, a amizade é fortíssima até encontrar uma desilusão ainda mais forte, a arte passa por ciclos, e se tudo isso é soberano e tem valor supremo, é porque hoje acreditamos nisso, hoje somos superiores ao passado e ao futuro, agora é que nossa crença se estabiliza, a necessidade se manifesta, a vontade se impõe – até que o tempo vire.
Faço menos planos e cultivo menos recordações. Não guardo muitos papéis, nem adianto muito o serviço. Movimento-me num espaço cujo tamanho me serve, alcanço seus limites com as mãos, é nele que me instalo e vivo com a integridade possível.
Canso menos, me divirto mais, e não perco a fé por constatar o óbvio: tudo é provisório, inclusive nós.
Martha Medeiros
sexta-feira, 27 de maio de 2011
sábado, 21 de maio de 2011
– E, como sou filósofa – continuou Emília –, quero que minhas Memórias comecem com a minha filosofia de vida.
– Cuidado, marquesa! Mil sábios já tentaram explicar a vida e se estreparam.
– Pois eu não me estreparei. A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda até que dorme e não acorda mais. É portanto um pisca-pisca.
O Visconde ficou novamente pensativo, de olhos no teto.
Emília riu-se.
– Está vendo como é filosófica a minha ideia? O Senhor Visconde já está de olhos parados, erguidos para o forro. Quer dizer que pensa que entendeu… A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre.
– E depois que morre? – perguntou o Visconde.
– Depois que morre vira hipótese. É ou não é?
(LOBATO-MEMÓRIAS DE EMÍLIA)
domingo, 15 de maio de 2011
terça-feira, 26 de abril de 2011
Nos salões do sonho
Nos salões do sonho nunca há espelhos...
Por quê?
Será porque somos tão nós mesmos
Que dispensamos o vão testemunho dos reflexos?
Ou, então
- e aqui começa um arrepio -
Seremos acaso tão outros?
Tão outros mesmos que não suportaríamos a visão daquilo,
Daquela coisa que nos estivesse olhando fixamente do outro lado,
Se espelhos houvesse!
Ninguém pode saber... Só o diria
Mas nada diz,
Por motivos que só ele conhece,
O misterioso Cenarista dos Sonhos!
[Mario Quintana-Velório sem defunto]
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Noturno Citadino
Ó noite, ó minha nega
toda acesa
de letreiros!... Pena
é que a gente saiba ler... Senão
tu serias de uma beleza única
inteiramente feita
para o amor dos nossos olhos.
[Mário Quintana- Esconderijos do Tempo]
segunda-feira, 28 de março de 2011
domingo, 6 de março de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
"Quem faz um poema salva um afogado."
Este sou eu!
(Roberto Schmidt)pernas guiadas pela triste e pálida luz.
Este sou eu,
agora, pelo menos agora, dispenso a companhia,
e a substituo por aquele velho veneno maligno,
de vez em quando faço buracos por desespero,
nao tente me entender, vc nao é capaz, ou seria?
Será que compreende o velho som?
Este sou eu,
capaz de amar uma voz,
mas incapaz de derramar uma lágrima,
ontem abri o velho livro e descobri a verdade do velho homem,
e descobri a mentira dos reis repugnantes, que pregam ser diferentes,
mas são tão iguais, e tão idiotas.
Este Sou eu,
desvendei a plenitude do mundo em um quarto vazio,
na guerra dos filosófos x poetas,
reinará e vencerá a percepção do caminho infinito.
Este sou eu,
vívido,capaz e tão monstruoso,
o dia santo proverá sobre vcs,
então faça suas preces.
Este sou eu...!
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Canção do dia de sempre
Viver tão só de momentos como estas nuvens no céu...
E só ganhar, toda a vida, inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio: Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua, tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança das outras vezes perdidas, atiro a rosa do sonho nas tuas mãos distraídas...
Mário quintana
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
O Vencedor
(Los Hermanos)
[...]
Eu que já não sou assim, muito de ganhar,junto às mãos ao meu redor,
faço o melhor que sou capaz só pra viver em paz...
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
O que realmente importa...
A reputação é o que acham que você é. O caráter é o que você realmente é...
A reputação é o que você tem quando chega a uma comunidade nova. O caráter é o que você tem quando vai embora...
A reputação é feita em um momento. O caráter é construído em uma vida inteira...
A reputação torna você rico ou pobre. O caráter torna você feliz ou infeliz...
A reputação é o que os homens dizem de você junto à sua sepultura. O caráter é o que os anjos dizem de você diante de Deus.